Olhares Palavras Momentos

quinta-feira, julho 19, 2007

Fecharam-te num deserto

Sentes a falta de coragem, sentes a fugir-te a humanidade em teu redor. Olhas o homem que alguém, o destino, na falta de melhor nome, te quis pôr na frente e chamar-se carrasco. Executa as ordens de outros sem ouvir as próprias, arranca-te a carne, frio, um quase de máquina que passa a tua porta (que desprovido estás, o que te resta?). Olhas mas não te retribui o olhar. Olhas, na pouca luz que te dão (tudo é pouco excepto a dor, isso a religião ensinou-te quando pequeno, quando as coisas são etéreas, mas a vida fez-te notar as diferenças), nas poucas palavras não vestidas de pergunta mas nada vês. Fecharam-te num deserto. Aprendeste a amar o silêncio, sinónimo que te esqueceram, mesmo por horas, minutos. Sabes ser o repouso ferramenta, a esperança instrumento, mas bebes-lhe o pouco que ainda tem para te dar. Há demasiadas sedes para tas roubarem todas.

terça-feira, julho 17, 2007

sexta-feira, julho 13, 2007

um sorriso que não explico

Passeio sobre o vento e pela praia que sobrou de anos atrás. Está frio, o sal das ondas no rosto, o grito afastado das gaivotas, o som dos barcos que trazem homens e peixe. Pegadas de outros recentes e um senhor de cana de pesca, imóvel na sua paciência, enquanto passo. De resto o Oceano e um princípio de chuva. Subo as escadas e nas esplanadas vazias deste início de primavera, a meu lado, a afastarem-se, duas senhoras num negro de viuvez anunciada, braço dado em silêncio, atravessando mais um dia. Numa um xaile e duas sandálias gastas, noutra uma saia castanha e um sorriso que não explico, nas duas uma Sesimbra perdida que não conhecerei.

segunda-feira, julho 09, 2007

quinta-feira, julho 05, 2007

eu de pé, escondido, a ver-me

O café de antigamente transformado numa multidão congelada de cadeiras vazias. Só a ferrugem floresce no canto do jardim que ninguém entende porque esquecido. O dono, que eu nunca soube o nome, sentado ainda atrás do balcão, peito e braços apenas e uma cara triste, imerso em razões que prefiro não decifrar, eu de pé, escondido, a ver-me na mesa azul com os meus pais e a minha irmã, Sumol de ananás vazio, um de mil pasteis de nata, dois carrinhos numa estrada invisível, um livro do Pato Donald relido (a capa a separar-se, os títulos das estórias sempre esquecidos, o Sol a descobrir as cores da revista). Terei nesse hábito de domingo viajado em todas as mesas que aqui estão, menos azuis agora, a morrerem nos olhos de fé perdida do senhor do balcão.

segunda-feira, julho 02, 2007

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