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quinta-feira, setembro 27, 2007

entre os dedos um estremecimento

Deténs-te sentado na estação dos comboios. Ao teu lado uma jovem e uma mala cheia (e grande para um corpo tão frágil), nos olhos o relógio a girar as horas. Nas mãos uma carta como nas tuas. Um papel meio fechado, adivinhando letras de mensagem relida e entre os dedos um estremecimento (e que dizer deste tremor? como reconhecer a origem, a quem é devido a atenção desta mulher que desconheces? terias direito à pergunta se a fizesses?). Na parede imunda, o ponteiro dos minutos avança em direcção ao '6'. Também a espera partilhas com ela, também o silêncio indiferente das órbitas que somos em viagem, também (talvez) o peso de ter lido, um dia, a frase que vos fez mudar de rumo.

terça-feira, setembro 25, 2007

quinta-feira, setembro 20, 2007

Quem quer saber da tua ânsia?

Sôfrego. O tempo não te chega, tudo é escasso, nada suficiente. Os anos voam (dizes) ficam-te as rugas coladas ao rosto ao corpo à família que te sobra. Tudo o resto foge, desespero mútuo, partilhado com quem ainda falas (que te ouvem, não há tempo para ouvir de volta). Mas quem se interessa? Quem quer saber da tua ânsia? Quem quer perder tempo contigo, perdido que está e irremediavelmente para onde quer que observes? Nos prédios, nas árvores, no jardim que te esqueceste (na infância haviam muitos, diferentes, separados. Também a memória funde, simplifica, destrói diferenças, e que diferença faz ser um jardim ou três? Que diferença entre os carinhos dos pais e dos avós? Que diferença entre a Lisboa dos 90 e a Lisboa dos 80?), nos desenhos de Abril nessas paredes húmidas e esquecidas de eleições, no reformado da polícia que vos suportava o bairro nos olhos tristes de viúvo, no cinzento escurecido da cidade, nas luzes, amarelas, tristes, ainda acesas de madrugada. Quantas horas te faltam? Quantas horas precisas? Para quê?

segunda-feira, setembro 17, 2007

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