Olhares Palavras Momentos

quinta-feira, outubro 25, 2007

que realidade é esta que nos cala?

O sol deste início de manhã não esconde ainda o frio que se agarra à cidade. Um vento quase vazio de força e a rua quase deserta. Nela um homem nas escadas de um prédio vermelho, no braço um saco de papel da mesma cor. Uma mãe, ao seu lado a criança que olha o alegre voo dos pássaros e no sorriso dela o contraste cansado da mão que a segura. Ao longe, uma pessoa oculta num vulto que se afasta, um cão vadio a cruzar a passadeira e um carro a rasgar, veloz, o deixado incómodo da noite. Em todos silêncio (que sonhos ficam à porta da rua numa manhã de inverno? que momentos guardamos desta constante romagem? que realidade é esta que nos cala?). A mulher do lixo avança devagar, metódica, pelo limpar das ruas. Por vezes pára, queixo na vassoura, à espera (parece) que o mundo se suje.

segunda-feira, outubro 22, 2007

quinta-feira, outubro 18, 2007

a fome feita gente

Vês o céu enegrecer e um outro dia que cessa preenchido de ausência. A fome, como um mar sobre um barco vazio que se afunda, invade-te consome a esperança que ainda e só ela te alimenta. De longe notícias, ecos de morte, da estrada novas caras iguais à tua, meses atrás, da estrada um caminho só de vinda, da estrada a terra batida em pés descalços de quilómetros, multidões sem nome, a coragem onde já não há força para o medo, o mundo, imenso, indiferente, cansado, a fome feita gente. Passam por ti mas nos teus olhos o quase nada que os alaga. Quantos dias gastos? Quantos mortos por saldar essa dívida que nos fez, há muito tempo, do barro e do silêncio de um deus já exausto?

terça-feira, outubro 16, 2007

quinta-feira, outubro 11, 2007

num acordo tácito

Disseste. Todos eles sabiam doutras formas, por rumores de vizinhos, no arrumar do quarto, nos gestos e nos actos que te fazes, no imponderável que é seres fruto dessa paixão já vivida um dia (e que tão morta te parece agora). Era num acordo tácito, contigo e os teus pais, que se soltavam os meses. Não podias mais na expectativa, no aperto de ar desse confronto adiado, nas discussões mil vezes sonhadas, revistas. Não pensavas ser assim. O teu pai, calado, a comer no prato o bife grelhado que o colesterol desterrou, o copo de vinho a meio e a eterna marca rósea na toalha por lavar, a tua mãe entre batatas fritas transformada em garfo, o olhar destituído do teu irmão, espelho do silêncio que te atinge.

segunda-feira, outubro 08, 2007

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