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quinta-feira, novembro 29, 2007

uma chávena de café nos lábios

O Sol adivinha-se no topo do terceiro andar. Na esplanada, quase almoço, uma senhora, óculos na sopa que remexe com três pardais a seguir-lhe o gesto, numa espera inquieta. Uma mulher, muito bonita, uma chávena de café nos lábios e imóvel num pensamento (talvez olhando para mim enquanto escrevo, enquanto observo, talvez olhando através de mim, pouco mais somos que obstáculos de vidro neste desconhecimento que nos separa). Um rapaz numa bata no seu branco de trabalho deixa cair a caixa de cuscuz e tudo se espalha no cimento. Alguém se ri perto dele e outro alguém, ao fundo, se levanta. Não os conheço. A única partilha é o momento neste espaço, irrepetível e cujo valor não posso saber para lá do texto que se forma. A mulher do café segura o telemóvel mas desliga-o após ler o número no visor. Vira-se para o ínfimo lago e no olhar, reflectido, o mesmo silêncio das árvores que nos cortam o vento.

segunda-feira, novembro 26, 2007

quinta-feira, novembro 15, 2007

a sua passagem apenas um eclipse

Oiço o amolador nesta calma possível de manhã de sábado. O seu som indo e vindo, ondas de música perdida há muito na minha memória (ainda se afiam facas e tesouras numa bicicleta, até quando?) (nunca lhe dei importância, não me lembro de ver alguém amolar ou a minha mãe descer as escadas, nas mãos um depósito de armas rombas e no bolso o dinheiro desse afiar de roda que não recordo). O seu toque percorre a rua outra vez mas a rua não responde, ninguém precisa de um amolador quando se tem perto uma loja dos trezentos. Talvez por isso o tenha ouvido pela primeira vez em três anos que aqui estou, a sua passagem apenas um eclipse de planeta a afastar-se sobre o hábito semanal dos sábados que, exacto, comparece à minha janela.

segunda-feira, novembro 12, 2007

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