Olhares Palavras Momentos

terça-feira, setembro 29, 2009

agora uma árvore que os tapa

A vigiar o exame já com tudo lido, passo a passo pela sala no silêncio possível destes sapatos. Tudo neles concentrado, uns no papel que escrevem, outros no enunciado ou num qualquer padrão do tecto enquanto o problema se estrutura. Deixo-me na janela com as casas velhas mais baixas que este terceiro andar. Num caminho empedrado, no corredor cortado do jardim, uma mulher num cavalo, este castanho e branco num vagar ditado, num resignar de vida; ela calada a falar-lhe por gestos de mão e pé que não entendo. Eles à minha esquerda a cruzar-me os olhos, agora uma árvore que os tapa, agora os dois à direita neste desfilar de minutos. Por fim atravessam o arco e eu de novo a olhar o céu.

sexta-feira, setembro 25, 2009

quarta-feira, setembro 23, 2009

Parado como eu, um senhor

Sábado de dispensa vazia e eu ela o carro a caminho do hipermercado. Hora de almoço a tentar diminuir a enxurrada de gente que nunca se evita, lá todo um país de carrinho de compras, uma transubstanciação de coisas que faltam, um desfilar de prateleiras a esvaziar-se em milhares de mãos neste espaço branco, um trânsito de gente que não se fala, um rosto ali que penso conhecer (mas não, passa por mim sem me ver e afinal o bigode os olhos aquele rosto diferente), o cheiro de cem queijos, de chouriços e na variedade dos legumes que diminui com os anos. E nesta babel à venda há os mesmos tapetes e roupas e livros para todos, nesta igualdade que nos confunde, neste ver o mesmo que nos desejam. Parado como eu, um senhor a guardar as compras, a segurar-se nos minutos no carrinho de grelha azul, um olhar para não sei onde, a cruzar silêncios naqueles que passam.

quinta-feira, setembro 17, 2009

terça-feira, setembro 15, 2009

Nos outros um reflexo que não entendes

Tentas falar mas a voz morre-te no perdido que estás desta turma. Nas mesas o livro de geografia que espelha o mapa mundo na brancura suja da parede. Nas mesas os lápis que não escrevem, as borrachas que não se gastam no útil que lhes dás, aquelas mãos tão longe do que dizes. São vinte nomes e pouco mais nesta distância que não percorres (tu também um nome, não uma pessoa nas suas atenções, como lhes tocar a inteligência, a atenção?), para além dos nomes o Luís no esforço diário de tentar aprender, os poemas da Maria João, o sonho acordado nos planetas da Rosa e o querer de justiça e de ser juiz do Miguel. Nos outros um reflexo que não entendes, um presente sem futuro, um desinteresse que te assola. Quase todos continuam o ruído mesmo após te calares. Como se não estivesses, como se o teu nome perdesse o corpo que nomeia, como se a aula não tivesse começado. Dás um berro e um silêncio que sabes ser breve. Uma lágrima, tua, e, sobre os muitos olhares que comparecem pela primeira vez, sais.

quinta-feira, setembro 10, 2009

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