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quinta-feira, setembro 30, 2010

Ele

Sabes o que quero? Sabes mesmo de onde retiro este possível? Quão complicada é a rede que tecemos, este ritmo de vida composto em fios de semanas iguais, entre silêncios e gestos cúmplices que a partilha nos extrai e expõe. Desejo seguir a linha que resgatasse um motivo, a definição segura de onde estamos, para onde vamos, do sentido das coisas que fazemos. Mas depois confundo, ou porque é difícil seguir o raciocínio até ao seu fim (e a realidade faz muito barulho) ou porque parte desse passado que nos fez nunca ocorreu. São procissões de imagens que queria ter visto e estão, sem remédio, misturadas aos momentos que nos foram dados, um filamento de anseios nunca experimentados. E o resto, ecos, sombras, imperfeições a custo feitas. A confiança que tenho no mundo não é maior que tu nas minhas costas à beira do abismo. Resta-nos pouco de valor, e disso raramente nos lembramos.

terça-feira, setembro 28, 2010


quinta-feira, setembro 23, 2010

de mão dada num guarda-chuva

Dois dias de chuva para atravessar molhada a cidade. No autocarro, os lugares ocupados, eu de pé a acompanhar balanços. É de manhã, a madrugada passou há horas e ainda assim o olhar partilhado de quem se levanta. À minha volta pequenos afazeres, pequenos nadas para passar a viagem (uma rapariga e uma caneta a rabiscar a apagar vazios no jornal, uma mulher mais velha de capuz posto encostada ao vidro a querer dormitar, um casal de velhotes de mão dada num guarda-chuva, dois miúdos a dedilhar no telemóvel e o resto das pessoas nesse nada que não transponho), e o tempo passa perdido em curvas e rectas riscadas de branco e amarelo, nas paragens de sempre, nos fluxos de carne e roupa que obedecem às portas. Horas que do silêncio pouco fica por dizer.

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