Olhares Palavras Momentos

quinta-feira, janeiro 28, 2010

aqueles ramos como um relâmpago negro

Chegamos e saímos do carro. Atrás de nós a estrada e uma montanha a prometer o frio da noite. A casa dos teus pais, dizes mas não te respondo (ou respondo, sim, porque no meu silêncio também o sorriso da minha mão a apertar a tua). De frente à casa, no jardim, a separar-nos uma árvore no Outono, aqueles ramos como um relâmpago negro a cortar fixo o céu. Nenhuma nuvem, nenhum animal, (todos mortos pelos anos, todos figuras difusas a cruzar-me o passado, nem os ecos do ladrar, da passarada, do gato que por cair da chaminé não mexia as patas de trás, naquele arrasto sem miar a que se reduziu, e eu, o Jorge e o Luís de quando em quando, parados, a vê-lo atravessar a sala e nós todos calados como se, pelos nossos olhos, uma qualquer verdade de adulto seguisse o gato) a fechadura perra, o corredor frio, o pó e as teias nos cantos e ninguém que nos receba. Somos os dois neste pequeno mundo só aberto duas vezes por ano, fechado no resto com demasiadas das minhas memórias.

terça-feira, janeiro 26, 2010

quinta-feira, janeiro 21, 2010

na casa do meu pai a ver-me crescer

Nunca eu nesta estrada. Nunca eu nos passos que me levem a ti. Nunca eu outra vez. Os gestos que repetes, as ameaças (ou promessas talvez, no limite não se distinguem) tecidas em novelos que já não conheço, tudo reciclado e no entanto nada muda nesses mesmos gritos, nessa porta sempre fechada em explosão, no contar mesquinho dos silêncios demorados, na contabilidade aflitiva do que foi dito (e não dito, pois não é só as respostas que não queres ouvir, são as perguntas que não respondo, as acusações que não contesto) e o que queres que fique? o que achas que sobra a este napalm diário que são as discussões que nos despem (a mim, a ti quero crer, ao constrangimento da velha Inácia a fechar a porta e nós a entrar, ou com ela no elevador, trinta anos na casa do meu pai a ver-me crescer e agora isto, o que lhe devo? perguntavas, e eu não sabia - ou não queria - dizer-te o quanto de passado esta querida velha me resgata).

terça-feira, janeiro 19, 2010

quinta-feira, janeiro 14, 2010

ela fechada outra vez esta noite

O volante seguro nas mãos, o rádio ligado (um programa local qualquer, antes vozes iradas agora música que não conheces), uma fresta deixada de janela, o vento apertado, o som dos insectos. A linha branca a alimentar a estrada, o passar de casas juntas, dois olhos de gato a reflectir a luz que do carro emana e no céu negro um pontilhar de estrelas. Avanças decidido mesmo que não saibas para onde. Ao teu lado ela, ela zangada pela razão que esqueceste, ela na ausência de ti, ela fechada outra vez esta noite (e neste atravessar cego, um separar de carro em dois, tu na serra parado, no molhado da terra mexida, a vê-la ir-se levada pela curva), ela nem sequer preocupada que adormeças.

segunda-feira, janeiro 11, 2010

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