Olhares Palavras Momentos

quinta-feira, maio 27, 2010

São rostos limpos de cara aqueles que defrontas

A casa sozinha para lá da sala onde te encontras. O frio da noite a cercar o calor do teu corpo deitado na sala. Todos esses papéis são dossiers a contar os cinzentos dos dias, são vidas catalogadas em processos do teu serviço, defesas e argumentos que afastam nomes, abstracções legais e decretos de decretos. São rostos limpos de cara aqueles que defrontas ainda acordada. A TV nas notícias repetida a cada meia-hora, outras vozes que misturam as tuas e fechas os olhos de sono, horas perdidas de esforço nesse navegar que escolheste nesse mar do insondável. Ainda estás vestida de trabalho, ainda na preocupação que não te permites largar marcada nessa roupa que não despes (menos os sapatos, deixados à porta no tapete desbotado que trouxeste dos teus pais, a gastar-se em cada chegada tua, assim como um pouco menos de ti que entra, cada vez que chegas sozinha sempre à espera de ninguém).

terça-feira, maio 25, 2010

quinta-feira, maio 20, 2010

é sempre de alcatrão a estrada que te arrasta

Nesta monotonia em pacotes de 24 horas tu sentado de novo no autocarro. No caminho igual os mesmos carros, as mesmas pessoas nos trilhos cruzados de vida, o mesmo céu ou as mesmas nuvens. É sempre água que chove, é sempre de alcatrão a estrada que te arrasta, é sempre o mundo que roda a levar-te. Na paragem do costume a multidão que entra e nos mesmos instantes tudo se enche num apertão de gente, de braços levantados em distâncias de pessoas. As travagens que se sucedem (e nesse balançar não te lembras se vais para casa ou para o emprego tal é o normal solitário do teu costume, indiferenciado, entre as folhas que ordenas na repartição e as outras a custo viradas nas viagens de romance) e quando a multidão sai para entrar no barco que as carrega ao rio, nesse espaço vazio ou quase, reparas agora no sorriso antes escondido da mulher que te pergunta, por exemplo, as horas.

terça-feira, maio 18, 2010

quinta-feira, maio 13, 2010

as únicas palavras que ainda fala aos outros

Bates com os dedos no copo vazio, a televisão nas vozes surdas misturadas na gordura das paredes, na humidade da noite, nos risos grunhidos das outras mesas. O balcão um mar de álcool que se esvai, os dos costume nos cantos do costume, tudo um receber de perda, um querer de nada (mas o relógio avança, e a mulher do dono ainda a servir, naqueles braços uma vontade perdida, um desistir de anos já passados e só o eventual de um sorriso quando lhe passa na memória a filha na faculdade em Coimbra, as únicas palavras que ainda fala aos outros). É com cerveja que lavas o resto e em ti, quando te levantas, um desbalanço, um olhar sem centro, uma vontade de resolver o mundo aos murros e vocês todos juntos nesta aldeia que morre. Faz-se um cemitério com pouca coisa.

terça-feira, maio 11, 2010

sexta-feira, maio 07, 2010

na tua voz ao telefone, tudo é distância

Deixas recados, pedaços de ti escritos no meu caminho. Para ti são portas abertas de um novo tentar. Para mim, ecos, promessas de retorno a um passado desvalido. Nas tuas palavras, na tua voz ao telefone, tudo é distância, tudo é revisto, retentado, tudo sombras de um quarto escuro em que entrámos os dois mas eu saí. E nesse ralo que fizeste (ou fizemos, tanto me faz a gestão das culpas) tudo se transforma em cobrança, em cheques brancos sem validade (e como desespera essa repetição). Um sentimento construído esta escolha de indiferença ao forçar-me a não te ver. Um sentimento construído porque tudo o resto destruído em vagas. Não se vive assim, sem um mínimo de paredes.

quarta-feira, maio 05, 2010

Posts Anteriores