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segunda-feira, fevereiro 26, 2007

branco e velho, a observar-me

O frio enche-me os ossos de vontade de voltar. É Inverno transmontano nesta semana de ano novo, no céu limpo, no rosto da estrada impresso em quem me cruza: Bons dias, Bons dias, Onde vai? Não sei. Não sabe? calo-me após o sorriso (na aldeia nada se faz sem motivo ou razão embrulhada em desculpa) e afasto-me, continuo, subo o carreiro deixado há anos ao abandono, deixo a silhueta imóvel das casas, as madeiras feitas portas encerradas em paredes, os olhos de um cão, branco e velho, a observar-me deitado no sonho breve e interrompido dos animais, o sol a acordar nesta luz tosca de outra manhã submersa (poder-se-á escrever ainda manhã submersa?). A serra descansa o corpo na planície (uma ou outra última estrela, restos de Lua, um morcego que voa), eu nos seus ombros a roubar-lhe um pouco do silêncio roubado aos pássaros que nela dormem.

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