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segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Terra

A tua terra, mãe. Mesmo sem aqui estares comigo sinto-te o cheiro da roupa lavada nesses dias de sol que de Verão vêm cheios, a comida preparada no calor da cozinha da janela, pequena, onde a luz do meio-dia não entrava facilmente, lembro-me (tantas coisas que me lembro, as lembranças trazem-se umas às outras agarradas por cordéis de algodão, é sempre o tempo que nos falta) da azinhaga a desenrolar-se no ribeiro, lento, eterno parecia-me (está seco, mãe, seco que não o vejo nesta fiada suja de agora) aos olhos da criança que aqui deixei. O sobreiro, passado a lápis no «primeiro desenho de pintor» (dizias tu daquele papel rabiscado) (ainda o tens?) cortado vejo-lhe a sombra crescida comigo cá dentro. Agora é casa, amarelos e azuis e caiados sobre tecto de família francesa de pai raiano. Queremos que nada se altere congelado em egoísmo na nossa memória mas é sempre o passar dos anos que desilude (ou ilude, não sei, nem sei se há diferença) pois da tua terra mãe, resta-me o pão quente do senhor António, os meus passos nesta chã, a silhueta da serra e o brilho chorado dos teus olhos.

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