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quinta-feira, março 29, 2007

quantas mãos as lavaram, as abriram, as sujaram

Subiste as escadas, escuras, de madeira, que levam ao fotógrafo da vila. Esperas, obediente, a tua vez e por fim entras na sala. Fechas os olhos por um momento. Ouves a delicada maquinaria obedecer às mãos do rapaz, bem vestido, que ambiciona coisas nutre paixões abriga futuros que nunca saberás. Sentes a rotina aperfeiçoada daqueles gestos e permaneces, confiante, sentado, em silêncio e à espera. A rua em baixo é luz, reflexo cruzado nestas janelas limpas (quantas pessoas no passado destas janelas, quantas mãos as lavaram, as abriram, as sujaram, quantos ombros a empurrar estes cortinados, quanto desespero desatravessado e esquecido nestes vidros?). Pedem-te uma resposta (está pronto?) sim (dizes) e preparas um sorriso. Sabes que não sobreviverás ao que deixas, sabes ser esse o sucesso possível, e apenas nisso o ânimo desse olhar. À posteridade que te esqueceu.

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