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quinta-feira, abril 05, 2007

de costas para mim, num sorriso que adivinho

Pela rua dou-me aos passos que levam o hábito a mais um dia. Subo os olhos pela esquina e observo nuvens adiadas de chuva por detrás do gato preto lambendo das patas a noite. O rosto dela lá se encontra, um arrebato de luz um sinal um talvez de desejo. Tudo o resto sombra, natureza morta desse quadro que te centra. Espero, num vidro de uma loja por abrir, que desças. Sem surpresa, horas contadas, chegas pela porta da rua, lanças um olá um sorriso prontamente respondidos e segues para a fila de espera recheada doutros. Passas pelos pardais nessa dança de migalhas que trazes de casa (a tua marca neste jardim). O velho do quiosque diz-te qualquer coisa como troca do jornal, não ouvi, nunca lhe oiço as palavras, e afastas-te, de costas para mim, num sorriso que adivinho. Esperas (sempre o costume) até o autocarro abrir portas para atravessar Lisboa e deixar-me as horas que passo nos despojos desta, minha, cobardia.

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