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quinta-feira, maio 31, 2007

escola i.

Atravesso, de carro, a estrada já suja de esquecimento. Não vou a guiar, dá-me tempo para olhar à direita aquilo que foi a minha primeira escola. Lembro-me do autocarro, verde e branco, a parar na esquina da casa dos meus pais, eu ali imóvel seguro na mão quieta da minha mãe, a porta a abrir-se na algazarra das outras crianças, amigos por fazer, zangas por cumprir, descobertas prometidas, a face impaciente, treinada, do condutor, o resto das pessoas a passar, na rua, indiferentes (creio) (ou imagino pois não me lembro) ao pequeno drama repetido mil vezes mas único em mim. O subir dos degraus, primeiro, segundo e entro no rebuliço infantil da expectativa, oiço a porta a fechar-se, um dois olhares e um sorriso, minha mãe a despedir-se, transformada num aceno à distância separado por riscos de janela. O motorista arranca, na lentidão estudada de um hábito que viria a conhecer. Sentei-me e esperei. Como agora, sentado, à espera, na permissão do semáforo, e vejo (não sei se com desgosto) que da escola sobrou um terreno informe, remoído de escavadoras e homens, a maioria por nascer quando, no fim dessa primeira viagem, ali entrei.

2 comentários:

Isabela Figueiredo disse...

Quase nunca leio blogues literários. Não suporto falsas pretensões. Este teu blogue é literário. Não é falso nem pretensioso. Gosto muito do que leio.
Beijo.

João Neto disse...

Obrigado, Isabel, por este teu elogio. Beijo.

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