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quinta-feira, junho 07, 2007

escola ii.

Havia um eléctrico, dos antigos, num canto da escola, esquecido já nessa altura, nunca nos deixaram entrar nem explicaram como nem quando ali foi deixado (entrei uma vez, às escondidas, no segredo partilhado de um amigo, nós sentados nos bancos de tecido verde rasgado, mãos nos joelhos e fingindo viagens para lá do possível das linhas que no dia-a-dia voltavam na Cruz Quebrada para retornar ao longe dessa Lisboa, a teimosia da madeira conservada, um pardal na janela a vigiar-nos, o velho do costume no outro lado da R. de Pedrouços, andar manco e na mão o saco plástico a baloiçar vazio no mesmo vento de agora, uns óculos partidos no chão sujo de outras coisas, a simetria dos comandos à frente e atrás e o silêncio arquivado das máquinas extintas), estava apenas a dez metros da linha por onde passavam outros como ele. Era uma baleia esquecida, morta na praia apodrecendo sem cheiro. Já lá não está.

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