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quinta-feira, julho 05, 2007

eu de pé, escondido, a ver-me

O café de antigamente transformado numa multidão congelada de cadeiras vazias. Só a ferrugem floresce no canto do jardim que ninguém entende porque esquecido. O dono, que eu nunca soube o nome, sentado ainda atrás do balcão, peito e braços apenas e uma cara triste, imerso em razões que prefiro não decifrar, eu de pé, escondido, a ver-me na mesa azul com os meus pais e a minha irmã, Sumol de ananás vazio, um de mil pasteis de nata, dois carrinhos numa estrada invisível, um livro do Pato Donald relido (a capa a separar-se, os títulos das estórias sempre esquecidos, o Sol a descobrir as cores da revista). Terei nesse hábito de domingo viajado em todas as mesas que aqui estão, menos azuis agora, a morrerem nos olhos de fé perdida do senhor do balcão.

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