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quinta-feira, setembro 20, 2007

Quem quer saber da tua ânsia?

Sôfrego. O tempo não te chega, tudo é escasso, nada suficiente. Os anos voam (dizes) ficam-te as rugas coladas ao rosto ao corpo à família que te sobra. Tudo o resto foge, desespero mútuo, partilhado com quem ainda falas (que te ouvem, não há tempo para ouvir de volta). Mas quem se interessa? Quem quer saber da tua ânsia? Quem quer perder tempo contigo, perdido que está e irremediavelmente para onde quer que observes? Nos prédios, nas árvores, no jardim que te esqueceste (na infância haviam muitos, diferentes, separados. Também a memória funde, simplifica, destrói diferenças, e que diferença faz ser um jardim ou três? Que diferença entre os carinhos dos pais e dos avós? Que diferença entre a Lisboa dos 90 e a Lisboa dos 80?), nos desenhos de Abril nessas paredes húmidas e esquecidas de eleições, no reformado da polícia que vos suportava o bairro nos olhos tristes de viúvo, no cinzento escurecido da cidade, nas luzes, amarelas, tristes, ainda acesas de madrugada. Quantas horas te faltam? Quantas horas precisas? Para quê?

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