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quinta-feira, novembro 29, 2007

uma chávena de café nos lábios

O Sol adivinha-se no topo do terceiro andar. Na esplanada, quase almoço, uma senhora, óculos na sopa que remexe com três pardais a seguir-lhe o gesto, numa espera inquieta. Uma mulher, muito bonita, uma chávena de café nos lábios e imóvel num pensamento (talvez olhando para mim enquanto escrevo, enquanto observo, talvez olhando através de mim, pouco mais somos que obstáculos de vidro neste desconhecimento que nos separa). Um rapaz numa bata no seu branco de trabalho deixa cair a caixa de cuscuz e tudo se espalha no cimento. Alguém se ri perto dele e outro alguém, ao fundo, se levanta. Não os conheço. A única partilha é o momento neste espaço, irrepetível e cujo valor não posso saber para lá do texto que se forma. A mulher do café segura o telemóvel mas desliga-o após ler o número no visor. Vira-se para o ínfimo lago e no olhar, reflectido, o mesmo silêncio das árvores que nos cortam o vento.

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