Olhares Palavras Momentos

terça-feira, março 03, 2009


mas nela (ainda) um vislumbre de sorriso

O marido foi-se (anos e anos atrás, perderam essa data dos calendários). Ficou-lhe o apartamento, um gato velho e cego de um passado morto e um hábito de caminho que a leva ao jornal (sobre futebol, sobre sabe-se lá o quê. Nunca os abriu, diz-se na rua, mas que os junta em colunas fúnebres no escritório que fora dele). Na varanda, no fim do dia quando o sol se esconde no Castelo, vê os barcos que sucedem, as gentes no mar da rua, os pombos nesse esvoaçar deles, todos de porto em porto com destino traçado (pergunto-me, quando a vejo, o que pensa ainda nessa varanda, o que a fará substituir o sol na decadência anunciada deste bairro?). De resto é dor e perda mas nela (ainda) um vislumbre de sorriso, um carinho num aceno, a esperança num momento (fugaz sim mas qual não o é?), uma adivinha de secura.

Sem comentários:

Posts Anteriores