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terça-feira, março 17, 2009

para que lhe oiçam o choro

Seguras a porta e as palavras. Vês-lhe descer o primeiro degrau mas não consegues dizer nada. Somente seis meses e tudo mudou. De um trabalho, de uma intenção honesta de estudo, de um viver quase agradável. Agora um inferno, o vosso. Como começou ele a perder-se? Quem o levou, o convenceu, o mudou? (antes querias um nome para imputar esta raiva que não te deixa mas apenas ficou o medo que te calhe o dele). A impotência nascida nessa parede que o teu filho se tornou, mudo a argumentos, à tua razão possível, a esse olhar do mundo que nunca foi vosso, a impotência que te gela o sangue, a impotência de vê-la, a ela que o gerou, na sala sentada e no desespero perdido daquelas mãos, naqueles dedos entre malhas azuis, naqueles dedos a carregar do botão para calar a TV para que lhe oiçam o choro. Mas o que pode ele ouvir? O que achas poder ele vir a saber agora que desce esta escada tornada fronteira?

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