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terça-feira, abril 07, 2009

dela na tua frente

Atravessas o corredor, vazio, nessa rotina da procura de objectos perdidos, memórias deixadas, lixo. Abres a porta e desces os dois degraus para o descampado que te defronta. Encostas-te ao autocarro, a sujidade no branco dele no branco cansado da tua camisa, os dois uma equipa calada que de ti apenas um sorriso, um olhar mais triste, o cheiro do cigarro que agora acendes. Sempre esta erva daninha sob o céu, de nuvens, limpo, de chuva ou vento, essa colecção de dias que ninguém recorda e a tua espera de fim de turno. Depois chega o próximo colega pronto a repetir as mesmas voltas com pessoas diferentes de iguais hábitos, um apertar de mão, a troca vazia das mesmas frases (e não te esqueces, pela diferença que esta indiferença te causa, dela na tua frente, a olhar-te, lá atrás no ano passado, outro tipo de silêncio que o teu medo foi incapaz de querer decifrar, talvez pelo casamento que te guarda os filhos ou outra coisa qualquer - depois da perda nada disso interessa) tu apenas nesse dar de chave entre mãos que não se tocam e já vais, esquecido, convicto, apanhar novo transporte para casa.

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