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terça-feira, maio 26, 2009

nesse acumular que nos isola

Entro no comboio e sento-me no banco amarelo roído nas linhas e com os borrões de sujo que já conheço. Ao meu lado uma rapariga, um início de mulher a segurar com força a mala de pele roçada. Olha pela janela até que dos dedos solta um botão e retira o telemóvel. Observo aquele ecrã minúsculo a brilhar entre cores e palavras que não leio. Guarda-o e volta-o a tirar, espera algo, creio, e outra vez concentrado nele, num dedilhar aflito entre letras entaladas. Pessoas que entram e saem, prédios que desfilam na frente de um cortejo de nuvens negras. Tudo à nossa volta olhares perdidos, à espera de uma estação, do fim da viagem para um dia de trabalho, nesse acumular que nos isola. E agora um sinal pequeno no silêncio entre estações, entre o metrónomo do metal e da madeira desta linha, e logo ela nele a ler-lhe o mundo que apertado ali chega.

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