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terça-feira, junho 23, 2009

como

O calor à vossa volta, o suor, a lama a entrar na sala, o sangue nas tuas mãos e nas mãos daquele homem desconhecido a quem entregas a vida do teu filho, nas lágrimas do teu marido ferido também por esta guerra que não entendes, nos gritos que da alma te abandonam e no desespero perdido deste tempo a passar. A enfermeira a rogar que saias e tu numa surdez presa ao chão à cegueira que adivinhas no vazio daqueles olhos que fizeste nascer e se esvai na tua impotência e perante o cenário e a batalha e os mortos lá fora. E aqueles mortos aí dentro de ti sempre a crescer em número, a dilatar a fila desses homens e mulheres e crianças (lembras-te do que parece um só dia de sol e paz e como a luz era forte e limpa então) (mas duvidas dessa memória, como pode ter sido o mundo justo depois do que vês agora?) que conheceste e que te atendem em silêncio.

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