Nas mesas alguém num gelado
Espero quinze minutos pelo cinema. Fecho o romance que trouxe e olho em volta largado que está o silêncio da minha leitura. Uma mulher eslava, bata branca a esconder-lhe a caspa e os rasgos da calça, ténis roçados e um chapéu da pala também branco e nele a ver-se dois brincos dourados (no pescoço um colar que penso ser de ouro, doutro tempo, doutra vida). Cerca-me a mesa com a esfregona, levanto os pés, obstáculos do seu serviço, e indiferente limpa o chão em redor antes de passar à mesa seguinte. As televisões penduradas, sincronizadas, desfilam mulheres perfeitas de vestidos improváveis e entre elas notícias desgarradas do mundo e da sua temperatura. Nas mesas alguém num gelado, uma mulher a engordar-se, olhos e alma num bolo de chocolate, um rapaz livro ao lado bloco e lápis e um desespero na cara pelas palavras que não saem. E eu nisto a escrevê-lo.
Olhares Palavras Momentos
terça-feira, junho 30, 2009
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