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terça-feira, setembro 15, 2009

Nos outros um reflexo que não entendes

Tentas falar mas a voz morre-te no perdido que estás desta turma. Nas mesas o livro de geografia que espelha o mapa mundo na brancura suja da parede. Nas mesas os lápis que não escrevem, as borrachas que não se gastam no útil que lhes dás, aquelas mãos tão longe do que dizes. São vinte nomes e pouco mais nesta distância que não percorres (tu também um nome, não uma pessoa nas suas atenções, como lhes tocar a inteligência, a atenção?), para além dos nomes o Luís no esforço diário de tentar aprender, os poemas da Maria João, o sonho acordado nos planetas da Rosa e o querer de justiça e de ser juiz do Miguel. Nos outros um reflexo que não entendes, um presente sem futuro, um desinteresse que te assola. Quase todos continuam o ruído mesmo após te calares. Como se não estivesses, como se o teu nome perdesse o corpo que nomeia, como se a aula não tivesse começado. Dás um berro e um silêncio que sabes ser breve. Uma lágrima, tua, e, sobre os muitos olhares que comparecem pela primeira vez, sais.

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