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sábado, outubro 31, 2009

que num sorriso a dizer-lhe não

Na rua cortada pelo fugir dos carros dois rios de gente à espera. No anónimo de cada cara uma vida, um desfilar de crónicas que não saberei contar. Em cada ruga um princípio de fim, em cada rasgo um talvez que nos separa. Os sinais trocam verdes e vermelhos e eis que os rios acordam e se movem um contra o outro, ladeando-se, numa torrente junta que se divide pelo metro, nos autocarros, num ou outro táxi, num caminho a pé pelas escadas (que nunca subi e que só agora observo, até ontem um vazio, um buraco de memória aqueles degraus). Um café aberto na rua, três senhoras, um vendedor de lotaria, parados naquele cheiro quente, num acordar de inverno que não viu sol ainda. Ele a pousar a chávena, a tentar vender uma terminação à senhora de casaco verde que num sorriso a dizer-lhe não. Depois, como por acordo os quatro a levantar sacos, a arrumar carteiras, a irem-se separados. Ficaram as mãos de quem arruma o balcão e uns olhos a ver passar a praça.

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