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sábado, novembro 28, 2009

quanto de aflição é tempo que vos resta?

No fundo da cama, nesse canto que não querias ter caído. A casa as paredes mesmo as portas passarão sem ti, alguém outro pintará o muro do branco vivo que nos anos se perde, outra voz receberá as visitas, neste quarto e noutra cama um casal talvez novo. A casa dividida no ar extinto de janela fechada, na música querida que deixou de tocar, no silêncio incomodado desse revezar de filhos. Devagar o mundo se fez pesado nessa tua fraqueza, nesse desquerer de mais anos, nesse rosto frisado que te reveste. Na entrada, em frente, o teu amor encostado (quantos beijos naquele ombro?, quantos segredos esquecidos juntos?, quanto de aflição é tempo que vos resta?) de olhar vivo, como uma lágrima esgotada a dizer algo que não entendes. Querias contar-lhe uma memória vossa que aos dois fizesse rir mas o riso não vem e apressa a madrugada. Já é tarde, tens sono.

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