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quinta-feira, janeiro 28, 2010

aqueles ramos como um relâmpago negro

Chegamos e saímos do carro. Atrás de nós a estrada e uma montanha a prometer o frio da noite. A casa dos teus pais, dizes mas não te respondo (ou respondo, sim, porque no meu silêncio também o sorriso da minha mão a apertar a tua). De frente à casa, no jardim, a separar-nos uma árvore no Outono, aqueles ramos como um relâmpago negro a cortar fixo o céu. Nenhuma nuvem, nenhum animal, (todos mortos pelos anos, todos figuras difusas a cruzar-me o passado, nem os ecos do ladrar, da passarada, do gato que por cair da chaminé não mexia as patas de trás, naquele arrasto sem miar a que se reduziu, e eu, o Jorge e o Luís de quando em quando, parados, a vê-lo atravessar a sala e nós todos calados como se, pelos nossos olhos, uma qualquer verdade de adulto seguisse o gato) a fechadura perra, o corredor frio, o pó e as teias nos cantos e ninguém que nos receba. Somos os dois neste pequeno mundo só aberto duas vezes por ano, fechado no resto com demasiadas das minhas memórias.

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