essa força ofuscada
Deitado nesta cama um menino a dormir. Eu que passava, detido no braço negro de feridas vislumbradas no branco das ligaduras. Ainda no braço um canal transparente a terminar ao alto numa cascata em câmara lenta. E naquele plac plac de soro, imagino-lhe a noite, o pesadelo encarnado desta criança que o irá reviver demasiadas vezes. Foi o pai (disse-me, depois, a enfermeira, e nela uns olhos tristes de tanto afastar dias nestes quartos), entre o álcool e uma qualquer discussão provocada, a violência cega, essa força ofuscada contra a impotência da infância. No outro lado, noutra cama, outro menino a dormir e uma mãe acordada, mão esquerda dada naquelas mãos e na outra, apertado, um urso de peluche, a velar-lhe o sono de olhos secos e, imagino, com a boca presa num engulho de vida.
Olhares Palavras Momentos
quinta-feira, fevereiro 18, 2010
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