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quinta-feira, março 04, 2010

e quando, lá em cima, se calam as gentes

Esta é outra Lisboa que me atravessa. Esta é um encruzilhar de ruas e avenidas que não conhecia mas onde também se murcha em coágulos de vida. Um casal discute no andar de cima e o prédio, a ceder na ruína de um século passado, a ouvi-los por inteiro. Somos todos, neste momento de noite onde estamos, aqueles gritos, aquelas mesmas acusações de ontem, somos o chorar das crianças, o ranger da madeira e os vidros a chocar em paredes (há sempre algo atirado, há sempre uma trajectória cortada, um baque num tremor, num anunciar de desastre eminente) e quando, lá em cima, se calam as gentes, o peso sobrado no escuro do tecto, o luar desfiado de persiana, a TV ligada a atravessar paredes, o pouco de Lisboa lá fora, tudo manchado em memórias que não se limpam.

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