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quinta-feira, março 25, 2010

tudo lixo e nesse lixo tu a descê-lo

Desces as escadas, a sujidade naqueles degraus é a mesma do prédio que as encerra, tudo podre tudo lixo e nesse lixo tu a descê-lo. O cão da rua, o rafeiro que há anos se acomoda na misericórdia do bairro (a mesma que te alimenta pela tua irmã, tão sozinha como tu, tão fechada nessas paredes de papel rasgado, vividas inteiras pelos pais, vossos, mortos e esquecidos quase após um ano, tudo vendido o que prestava, tudo o resto detritos que não se distinguem e a tua irmã, monumento vivo desse conjunto de momentos dispersos a que chamam passado, a dar-te ainda almoço jantar cama uma pessoa para ofenderes) e o cão na tua frente, olhos nos teus à espera do mesmo que tu e que não sabes o que seja, e nesses olhos um espelho no qual, cheio de uma raiva pútrida de tão grande que sempre incontida, arremessas um pontapé para que te saias da frente.

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