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quinta-feira, outubro 28, 2010

e toda uma história que adivinho naquelas lágrimas presas

Um relógio branco na parede creme a ditar-nos horas. Uma mesa ao centro, sete cadeiras e um sofá verde roçado por quantos braços passados nesta sala de espera. Somos seis na esperança de uma consulta já de si atrasada, seis desconfortos expostos, corpos de um vigor adiado ou perdido, seis expectativas de um resolver de problema, esperanças de saúde que a porta fechada de um senhor doutor feito em anos de faculdade e hospital prenuncia. Ao meu lado, uma senhora a escolher companhia com os dedos nas revistas, entre juras impressas a cor e em imagens de sonho. Um casal novo, ele de olhar distante a transpor as paredes deste hospital, ela a afagar-lhe o cabelo e toda uma história que adivinho naquelas lágrimas presas. Um velho que troteia para si uma melodia esquecida (e de um bolso o tirar do lenço avermelhado sujo do seu sangue onde noto as curvas de um LV estampado). Ainda um outro homem, tão novo quanto eu de olhos fechados nos minutos que não passam, um livro entre as pernas fechadas, as mãos dadas, a lombada está-me oposta e não sei do que se trata (e, por instantes, eu apenas no puzzle daquele título por saber). Perto das revistas, na mesma mesa, um cinzeiro azul (um desafio do sinal descolado que proíbe fumar) e nele um remoinho de pastilhas, uma beata e o repositório dos terrores por nós e em silêncio partilhados.

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